quarta-feira, novembro 29, 2006

Big Fish

Quando pensei nesse post fiquei na dúvida entre dois títulos: Big Fish ou Forest Gump. Mas como vocês puderam perceber, o Tom Hanks perdeu o papel principal.

Você assistiu Big Fish? Se viu, ótimo. Se não viu e nem quer ver, tudo bem. Agora, se não viu mas ficou com vontade, acho melhor parar por aqui nesse post. Sim, porque eu vou ser obrigado a contar o final.

Não é exatamente daqueles filmes que se alguém te contar o final o resto todo desmorona (como o do molequinho que fala “I see dead people”).

Mas aí é você quem decide, eu já deixei avisado .

Eu tenho um amigo escritor. Escritor mirim. Mirim porque o cara me faz uma noite de autógrafos do primeiro livro da vida dele e esquece de levar uma caneta. Enquanto eu tomava meu primeiro chopp da noite, autografou meu livro com a bic sem tampa do garçom. Um baita livro daquele, nada, nada merecia uma Mont Blanc.

Esse meu amigo é daqueles amigos mesmo. Brother. E entre uma mesa e outra de bar, ele vem sempre cheio das histórias. Não só as que ele relata no livro de contos (e que jura de pé junto que nada daquilo tem a ver com a própria vida), mas dessas que ele mesmo vivencia.

Não sei se eu sou ingênuo ou se ele é muito bom de papo (se ele escreveu um livro de contos a segunda opção ganha considerável força). Mas é impressionante como tudo acontece com esse cara. As coisas mais bizarras, mais surreais. E eu, sem pestanejar, sempre acreditei em todas essas histórias.

Alguns mais céticos, lá pelas tantas, sempre soltam um: “ah cara, você tá zoando, não é possível...”

É um tal de amigo gigante, estagiário que caiu no conto da concorrência pra nova bandeira do Brasil, mulher barbada, homem bala, domador, as sete caras do doutor Lau e por aí vai circo a fora.

Numa das histórias, o cara conheceu a mulher mais gostosa do prédio onde ele mora. Até aí nada de anormal. Mas quem juntou os dois foi o porteiro que, de livre e espontânea vontade, decidiu que eles tinham que se conhecer e pronto. Do tipo “Vô ajudá o sinhô”. Pois o porteiro virou cupido via interfone. Marcou encontro na piscina e tudo mais.

Me diz, quando é que uma coisa dessas?

E a evangélica? A evangélica eu não vou nem contar aqui porque vão me chamar de mentiroso.

Bom mas eis que ontem, no lançamento do tal livro, tô lá eu no meu terceiro chopp quando na mesa ao lado senta uma mulher espetacular acompanhada de um sujeito que realmente não combinava em nada com ela. Ela toda elegante, com pinta de modelo e o cara meio bregão, com jeito de tosco. Eles ficaram ali uma meia hora e foram embora.

Depois de autografar alguns livros, meu amigo senta do meu lado, vira pra mim e diz:

- Ô Gastón, você viu a modelo do meu prédio? Ela tava aí, veio com o porteiro.

Pois é, de uma hora pra outra, um a um, todos aqueles personagens fantásticos que eu ouvia nas histórias malucas desse sujeito começam a chegar, a cumprimentá-lo e a pedir dedicatória no livro.

(agora vem a parte que eu conto o fim do filme)

Imediatamente me lembrei do enterro do contador de histórias do Big Fish, onde o filho que nunca acreditou nas lendas do pai encontra as siamesas, o bagre, os anões...

Rods, você é um grande escritor, um grande contador de histórias e um grande amigo.

Se alguém aí tiver sorte de encontrar com esse cara na mesa de um bar, pode ter certeza que aqueles absurdos todos são a mais pura verdade.

E tendo ou não esse tipo de privilégio, vale a pena comprar o livro dele. Com certeza é Peixe Grande.

Mas se quiser dedicatória eu aconselho levar uma caneta.





terça-feira, novembro 28, 2006

Sobre nossas cabeças.

Morar em prédio de apartamentos depois de 30 anos vivendo na mesma casa onde nasceu traz muitas novidades.

Fora o karaokê japonês matutino da minha vizinha da esquerda e a bomba do tanque de carpas igualmente japonês do meu vizinho da direita, a gente mal percebia que eles estavam ali. É, digamos que esses dois barulhos já eram mais que suficientes.

Mas morando num ap, a gente acaba estabelecendo um vínculo auditivo com o morador do andar de cima. Incrível como os apartamentos que estão no mesmo andar ou abaixo de mim, não emitem um ruído sequer. Eles podem jogar vaso na parede, se esmurrar, gritar, bater panela, dançar a xula que eu não ouço nada. Mas o vizinho de cima mal pode espirrar.

Pelo que eu pude perceber, quem mora no 144B é um casal sem filhos. Isso porque ouço conversas entre uma voz fina e uma voz grossa. Ouço como se fosse a professora do Charlie Brown falando, mas ouço. Não é sempre. Escuto as vozes a noite quando o silêncio da rua deixa tudo mais evidente.

O desgraçado é São Paulino roxo. Preferências futebolísticas à parte, quando a droga do time dele ganha, o infeliz não se contenta em comemorar. Ele pula, esmurra a parede, sai na janela e grita : caralho, porraaaaaaaaaaaaa! As vezes eu acordo e acho que to morando no Cingapura. Em compensação quando o São Paulo toma um gol ele sai andando de um lado pro outro. Não preciso nem ligar a TV.

Por falar em TV, eles assitem no quarto antes de dormir. E são meio surdos...

Complicado é que tudo isso faz a intimidade das pessoas descer pelo ralo. Literalmente. Você sabe quando cara ta cagando, quando ele tá fazendo um xixizinho, quando alguém tá tomando banho... mas o que me irrita mesmo é que um deles faz questão de dar três batidinhas com a escova na pia depois de escovar os dentes. Deve ser o cara porque ele desce a porrada na coitada da escova.

Todo dia pela manhã escuto alguém no chuveiro e já sei que o radio relógio no chão do meu quarto ta marcando seis horas. Ótimo, ainda tenho mais uma hora e vinte minutos de sono. Depois vem o som das gavetas e das portas dos armários. Resumindo, se eles perderem a hora eu também perco.

Mas tem uma coisa que tem me intrigado bastante: eu acho que eles não fazem sexo. Quer coisa mais barulhenta que alguém dando umazinha bem em cima da sua cabeça? Ou então eles são tântricos e ficam horas atarrachados numa posição esquisita, com as mãozinhas dadas fazendo movimentos circulares enquanto respiram prana. Ou será que é um casamento de fachada? O cara é eunuco? Não é possível, até um papai-mamãe faz barulho.

De repente o cara chegou em casa outro dia e falou pra mulher:

- Eduarda Cristina, nós não podemos mais ficar juntos.
- Mas porque Roberto Augusto?
- Porque que nós somos irmãos!!!

Quem sabe né, novela mexicana tá aí pra mostrar as coisas como elas são.

Bom, participando tanto assim da vida alheia por livre e espontânea vizinhança, fico pensando o que o pessoal do 124B pensa a meu respeito.

Será que eles...

É, acho melhor nem pensar.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Mulheres que amamos: a mulher badauê.

Inspirado nos posts do blog da minha amiga Jeca, resolvi dissecar aqui alguns tipos femininos que passam ou passaram pela minha vida. Bom ressaltar que a Jequinha é minha amiga de infância (bonito isso né Tati?) e tem o poder de denunciar alguns dos exemplos que eu vou citar.

Pra começar essa série que não sei até onde vai se estender, vou falar da mulher badauê.

Pra ser honesto ela não faz muito o meu estilo. Sei lá, vem com esse papo de sociedade alternativa, alimentação alternativa, respiração alternativa... é muita alternativa. E quando você dá muita alternativa pra uma mulher a coisa complica. Ela pode demorar horas pra se decidir.

Também não me imagino com quinze filhos descalços de nomes da natureza do tipo Luar, Brilho, Estrela da Manhã, Por do Sol, Tucunaré, Pirarucu, Cristal, Raio de Sol, Aurora Boreal, Marimbondo, Querido Pônei... Adoro criança, mas meu filho já vai nascer de Adidas no pé.

Um traço grave da personalidade Badauê e uma certa falta de vaidade feminina. E algumas delas são bem gatas. Dá vontade de você pegar a infeliz e esfregar com pedra pome , lavar com bastante shampoo e chamar o esquadrão da moda pra fazer uma fogueira com aquele monte de tai-dai. Isso só em alguns casos porque quase toda badauê que eu conheço usa rasteirinha de couro da praça da república mas vai no remelexo de audi A3.

O grave é quando tem pernas a la Rivelino, chumaço debaixo dos braços e bigodinho. Esse é o maior trio espanta homem da face da terra. E se depois de tudo isso o sujeito for cabra macho e resolver encarar, pode ter uma surpresa debaixo daquela saia indiana. Quem quiser ver a Monga vai no Playcenter.

Mulher badauê curte Raulzito. Já pensou? Ela entra no seu carro e bota lá um cedezão tocando Maluco Beleza? Realmente é de enlouquecer. Mas esse gosto musical duvidoso tem um lado econômico: ela nunca precisa se preocupar com lançamentos porque todos os ídolos dela já bateram as botas há séculos: Raulzito, Jim Morisson, Bob Marley, Janis Joplin, Jimi Hendrix... Mulher Badauê só curte música de defunto.

Garanto que até o presente momento você já lembrou de, pelo menos, umas cinco amigas de escola que formavam um grupinho desses. Se é que você não se lembrou da sua própria adolescência. Não adianta, toda escola tem um grupinho desses. Aquelas que iam fumar um beck atrás da capela, que estavam aprendendo a tocar violão, que faziam teatro, artesanato e foram viajar.

Recentemente constatei que existe um novo grupo: o das Neo-Badauês. Pra encontrar com uma delas é fácil: de dia estão na PUC e de noite no KVA. Neo-Badauê bebe xiboquinha, ouve Fala Mansa e almoça no natureba. Geralmente são absurdamente gostosas e algumas fazem questão de andar sem sutiã.

Se você estiver com uma mulher dessas na sua lista de prioridades, acho que algumas dicas podem ser úteis. Combina de almoçar com ela no indiano perto da Paulista, leva ela pra jantar no... não leva ela pra jantar. Vai no teatro. Leva ela na peça do Oswaldo Montenegro. Aliás ela vai ter uns 3 ou 4 amigos no elenco.

Pronto, tá com moral.

Mas no meio de todo esse arroz integral, zabumba, Boiçucanga, forró e vegetais folhosos, não se deixe contaminar muito.

Mulher badauê tem seu estilo mas homem badauê fica dando pinta de Gabeira.

Ô bicho, sai pra lá com essa sunga de crochê.

domingo, novembro 26, 2006

Magic Kingdon

Quando a gente sai da casa da mãe da gente, os poderes mágicos do mundo se acabam. Os fenômenos paranormais cessam. O inexplicável simplesmente vai embora de mala e cuia de nossas vidas.

Lá as coisas aconteciam mais sobrenaturalemente.

Como explicar o sumiço das meias sujas que a gente deixa no chão do quarto? Aquelas que se limpam, se dobram e vão absolutamente submissas para dentro da gaveta. E ainda encontram seu par. Pois é, meias são fieis como pinguins. Alguém devia tentar filmar a vida delas. “A Marcha das meias”.

E o que dizer das camas auto-arrumantes? Nunca vi dessas pra vender, onde minha mãe encontrou? Você sai pra trabalhar e quando volta o lençol tá esticadinho, os travesseiros emparelhados. É incrível.

Tem também as pias de banheiro auto-secantes e com anti-escova de dente largada e anti-tubo de pasta aberto.

Mas o que eu mais sinto falta é da despensa encantada. Aquela que se enche sozinha de alimentos. A gente nem precisa ir no supermercado, não gasta dinheiro nem nada. É só entrar lá que uma vez por semana ela se abastece. De vez enquando tinha até chocolate.

Toalhas que secam e se penduram, mesas que se arrumam, roupas que se lavam, privadas que se limpam, latas de lixo que fazem desaparecer seu conteúdo todos os dias como coelhinhos na cartola.

Aqui em casa ninguém me obedece. As cuecas se fazem de surdas, as meias ficaram preguiçosas, a louça não tá nem aí pra nada, a cama tá desleixada...

Eu é que tenho que fazer tudo.

É, essa vida sem mágica fica muito complicado, muito mesmo.

sábado, novembro 25, 2006

Ressucitando o Francês

Gente, transferi meu blog por livre e espontânea porrada para o esquema do "New Blogger in beta". Blogueiros que tem conta no Blogger também tiveram que fazer o mesmo.

Pra quem tá viajando nessa história toda, é o seguinte: blogger é o site que mantém e atualiza nossos queridos blogs. Recentemente eles deram um upgrade no serviço e todos tivemos que atualizar nossos cadastros, configurações, etc...

E o que aconteceu foi que o Vida Perra e o Croquer Monsieur (meu antigo blog) ficaram sob o mesmo cadastro. Acho que vou tirar o Croquer definitivamente do ar.

Mas se realmente fizer isso, pensei em, nos fins de semana, reeditar os melhores textos e publicá-los aqui. Fim de semana eu nunca posto mas tenho visto que várias pessoas acessam o Vida Perra.

Assim posso mostrar um pouco da minha encarnação francesa pra quem me conheceu apenas em versão espanhola, relembrar alguns posts legais e deixar contentes os visitantes de sábado e domingo.

Antes de mais nada, queria a opinião de quem passa por aqui.

E aí? Posso botar o Croque-Monsieur pra requentar na sanduicheira?

quinta-feira, novembro 23, 2006

O que importa é o que conta.

Contas. Elas se proliferam. Elas devem transar umas com as outras que nem porquinhos da índia pra se multiplicar desse jeito.

Quase todo dia embaixo da minha porta tem uma. Ou duas. Ou várias.

Fico lembrando do filme do Harry Potter quando aquelas corujas querem entregar uma carta pra ele. Entram envelopes pela porta, chaminé, janela e inundam a casa inteira. Pois é, acho que o meu banco foi comprado por Hogwarts. Meu gerente deve ser o Dumbledore. Até que seria bom... “Ô querido, faz uma mágica aí pra aumentar a grana que eu tenho na conta”? Aliás faz todo sentido porque quem não é mágico é chamado de trouxa... hum, vou investigar esse negócio.

( Viram que dessa vez eu já coloquei o link do YouTube? Moderno esse lance...)

Queria um dia chegar em casa e ver no chão uma carta de algum tio rico que morava num chateau em Avignon e que bateu as botas deixando toda a fortuna dele pra mim. Ou pelo menos uma cartinha do meu banco avisando que eu ganhei uns trocos na capitalização.

Porque mega sena eu já desisti faz tempo. Não rola gente, não se iludam. Uma vez fiz um teste com o pessoal da agência. Cada um fez um jogo de mentirinha de 15 números. Pegamos esses jogos todos e colocamos num site que verifica quantas vezes na história da mega sena a gente teria faturado alguma grana.

Nenhuma.

Ninguém ganhou mais do que uma quadra ou duas. O que costuma pagar uns duzentos mango é olhe lá.

Bom, mas o fato é que eu chego em casa todos os dias e cada envelope que eu abro tem lá estampado um belo código de barras.

E eu não dou conta de tanta conta. Não de pagar porque a gente se aperta daqui, espreme dali e vai levando. No mês seguinte cai o salário, a gente sai um pouquinho do vermelho e segue em frente.

Não dou conta é de lembrar de tanto boleto. Condomínio, telefone, tv a cabo, internet, luz, celular, DARF, ISS, INSS, contador, cartão amex, cartão Boston, cartão Sudameris, IPTU , Gás...

Logo eu, filho de um sujeito que trabalhou nada mais, nada menos do 47 anos num banco. No mesmo banco. Realmente da cabeça daquele homem só herdei a falta de cabelo.

Eu vivo atrasando os pagamentos. Quando vou ver já passou a data de vencimento. E me toca ficar na fila do banco, chingando a própria existência e se auto-flagelando de ódio.

Recado na geladeira, fita no dedo, planilha de exel, fosfosol, nada adianta.

Eu esqueço. Sacanagem a gente ter que pagar multa por um defeito da nossa personalidade. Devia ter um adendo nas contas “Pagável em qualquer banco até o vencimento. Após vencimento, apenas no banco Itaú com taxa de 0,2% ao dia. Para pessoas portadoras de cabeça de vento, pagável assim que a besta lembrar. E esquece a multa, ele não tem culpa”.

É justo não é? Eu acho.

Ainda bem que blog é de graça. Se não qualquer dia desses vocês iam entrar aqui e dar de cara com um “Esse blog está fora do ar por falta de pagamento”.

Esqueci ué.

Pluto

Antendendo a pedidos de minha queridíssima leitora e amiga Clau, dos mais jovens, dos mais velhos, dos sem infância, dos sem tv ou dos sem memória:

http://www.youtube.com/watch?v=cyfa4qM0KH8

Vá direto ao minuto 2:10 para saber (ou rever) o que falei no fim do post passado.

Thanks YouTube :0)

quarta-feira, novembro 22, 2006

Bom de cama.

E lá está Gastón no meio da loja de colchões.

Quando mudei pro meu apartamento, levei junto minha humilde caminha de solteiro. Velha de guerra, companheira de muitos anos. Foi bom tê-la nos quase dois primeiros meses de adaptação, afinal de contas, nada melhor pra ajudar a me sentir realmente em casa.

Obviamente não foram (e ainda são) poucas as vezes em que eu acordei de manhã e, por alguns instantes, achei que ainda tava na casa da minha mãe.

Foi então que decidi dar a derradeira chulapa no meu cartão de crédito (que tá com a tarja magnética sumindo de tanto usar...) e comprar minha cama de casal para a vida de solteiro versão 2.0.

Cama nova, colchão novo, travesseiros novos, lençois novos. Agora só falta... bem, só falta mesmo fazer juz ao termo “de casal”.

Mas vamos pular essa parte.

Escolher uma cama é uma das coisas mais bizzarras do mundo.

Se você vai numa loja de roupas, entra num provador e veste a roupa. Se vai numa loja de calçados, tira o sapato e dá uma voltinha com o novo par. Num restaurante, prova um gole do vinho. Agora se você vai comprar cama, tem que ficar deitando que nem um idiota em tudo quanto é colchão na frente de um monte de gente.

É um festival coletivo de VPP. Um zoológico de tanto mico.

Aquela loja imensa, cheia de modelos, tamanhos, espuma, mola, mola ensacada, mola ensacada e importada, mola ensacada, importada, aprovada e testada...

O pior é que cama não dá pra escolher só de olhar. É o lugar onde você vai passar metade da sua vida, onde vai desfrutar o sono dos justos, onde seu esqueleto vai descansar.

E o cara da loja vai com a maior naturalidade:

- Deita pro senhor experimentar.

E eu sentava na ponta da cama e dava aquela chacoalhada pra ver se o colchão ela bom.

- Deita, pode deitar.

E eu ia mais pro meio da cama e chacoalhava com mais força.

- Senhor, o senhor não vai deitar?


Tava com o cérebro quase saindo pela orelha de tanto me chacoalhar naquela merda mas não teve jeito, se eu não deitasse o sujeito não ia me dar folga.

Inferno... Aí eu deitava mas ficava com as pernas pra fora, já quase pronto pra levantar de novo, olhando meio que pro infinito, pra dar impressão de que nada de anormal estava acontecendo.

Aquele colchão era ótimo, tava na promoção e eu disse que era o colchão dos meus sonhos antes que o sujeito me mandasse experimentar outros dez.

De repente, do outro lado da loja eu vejo um casal de gordinhos se refestelando na cama. Eles deitavam de lado, de bruço, de barriga pra cima, trocavam de lugar, abriam os braços, davam mortal, cambalhota, duplo-twist carpado...

Enquanto isso a filha adolescente deles andava meio perto de mim pra fingir que era minha irmã. Eu me compadeci da garota. Vem cá maninha, vamos ver travesseiros ali do outro lado da loja enquanto o papai e a mamãe curtem uma de Daiane dos Santos. Só faltou tocar o Brasileirinho.

Bom, paguei em suaves prestações e sai correndo daquela loja de gordinhos com complexo de feijões mexicanos saltadores.

Em pouco tempo me acostumei a dormir esparramado e com dois travesseiros da NASA. E diz aí quem é que estranha muito uma cama grande e macia...

Aliás, me dá licensa que tá ficando tarde e o Pluto já passou por aqui com aquele chapéu de chinês e um saco de areia nas costas. Quem entendeu o comentário pode vestir a carapuça da idade avançada.

Vocês podiam dormir sem essa.


Ps. Vou acabar relendo esse post durante o dia e algo me diz que vou sentir falta desse momento.

Máximas filosofais

Existe uma máxima, cunhada por um sábio filósofo da música popular brasileira num programa de tv que assisti outro dia e que cabe bem para um começo de post como esse:

“Mulher é um saco sem fundo”.

Essa célebre frase foi dita dentro de um verdadeiro covil feminino, um reduto de progesterona televisiva chamado Saia Justa. Programa que já foi ótimo, mas que hoje em dia tem um time de mal-amadas que nenhuma mulher que eu conheço aguenta assistir.

Mal-amadas à parte, todas elas concordaram com o tal comentário e se assumiram sacos sem fundo mesmo. Deu a unha elas querem o dedo, deu o dedo elas querem a mão, deu a mão elas querem o braço.

Se é compreensivo ela quer que o cara seja mais ogro. Se é um neandertal ela quer um cara que entenda os problemas dela. Se ele é meio a meio, assim não dá, você é muito meio a meio.

É, vocês são difíceis as vezes...

Mas analisando alguns dos meus amigos (e a mim mesmo) tenho enumerado as diferenças entre o homem a moda antiga e o homem moderno. Porque é nesses dois tipos de extremos que residem os maiores conflitos nos gostos femininos.

Em primeiro lugar, moda antiga não é aquele que abre porta, que puxa cadeira, etc... Aliás, até nisso as mulheres discordam de sair no tapa. Se abriu a porta do carro é porque exagerou, se puxou a cadeira é porque é um gentleman.

Claro que elas vão bater boca em busca do ser humano do sexo masculino ideal. E muitas vão confessar seus consentimentos e vistas grossas a muitos costumes nossos, digamos, pouco agradáveis.

Como identificar um legítimo homem das antigas:

Ele vai consertar a porta do seu armário, a mola da sua porta que quebrou e arrumar o vazamento da sua pia. Sabe onde estão os registros, não tem medo de se eletrocutar e se o carro enguiçar, abre o capô pra descobrir onde está o problema.

Esse sujeito quer ver carne no prato 7 vezes por semana. Frango é coisa de viado. Peixe então, só se ele pescou com o dente e cozinhou. O homem das antigas gosta de cerveja. Ele é capaz de beber cerveja durante dias e mais dias sem parar. Esse cara também não liga muito pra roupa. Não té nem aí se tá na moda ou não. Se souber combinar a calça com a camisa já é um grande avanço. Aliás, ele costuma ter roupas de oito, nove anos atrás. Joga futebol com os amigos no fim de semana. Adora filme do Chuck Norris e nega de pé junto, mas assiste novela que é uma beleza. Não usa perfume. Seu desodorante ou é Axe ou é Trés de Marchant. O maior medo do homem das antigas é ver o filho virar gay.

Como identificar um típico homem moderno:

Ele vai reinstalar seu HD, formatar seu computador, programar seu DVD e deixar sua cozinha cheia de eletrodomésticos de última geração. Não sabe onde estão os registros e no máximo troca uma lâmpada queimada. Mas puxa o palm top pra ver o telefone da seguradora que vai mandar um encanador resolver o vazamento embaixo da pia (até lá sau casa já virou um espelho d'água). Aliás, ele não vive sem seguradora. Porque se o carro enguiçar, ele mal sabe onde abre o capô. O homem moderno come carne uma vez por semana e olhe lá. Mas se deixar, manda uma comida japonesa no café, almoço e jantar.

Curte uma cerveja, mas sabe que o mundo não vai acabar amanhã. Gosta de se vestir bem. Isso não quer lá dizer muita coisa porque existe gosto pra tudo nesse mundo. Mas digamos que uma roupa descartada não é necessariamente aquela que está com um rasgo embaixo do braço e sim aquela que não agrada mais. Joga Age of Empires no computador durante a madrugada. Gosta de filmes do Almodóvar, não suporta novela e se cruzar a Regina Duarte espanca até a morte. Tem no mínimo 5 perfumes diferentes. mas geralmente usa um em especial. O maior medo do homem moderno é tomar um cacete do filho no playstation.

Os modernos e os das antigas vivem em perfeita harmonia. Amigo é amigo. E afinal de contas, a gente tem algo que nos une acima de tudo: nosso time de futebol. E mesmo se o meu for diferente do seu a gente é amigo pra poder tirar sarro um do outro na segunda-feira.

Essas diferenças todas ficam pra elas. Que são mesmo um saco sem fundo. E que no fundo, no fundo, também não são nada parecidas.

O que, trocando em miúdos, quer dizer que a gente vai continuar com um ponto de interrogação enorme na cabeça. E se você for daqueles que sabe escutar e entender uma mulher, um aviso:

Já levei um pé na bunda por causa disso.

Aliás, acho que saco sem fundo não é bem o termo certo. Acho que beco sem saída fica mais apropriado.

Nova máxima cunhada por ilustre blogueiro da internet brasileira neste blog tão visitado pelo sexo feminino:

“Mulher é um beco sem saída”.

terça-feira, novembro 21, 2006

Socorro: meus amigos casaram.

Todo mundo casou.

Já decorei até aquela fala que o padre fica ditando pro noivo e pra noiva repetirem no microfone sabe?

Nunca usei tanto terno e gravata num ano só. Aliás, ainda bem que o pessoal não compara foto de casamento, se não ia me ver sempre com o mesmo kit coxinha. Mas é legal usar terno, a gente fica elegante, as mulheres olham mais...

Edumentárias a parte, o negócio é que amigos solteiros estão cada vez mais raros. Amiga então nem se fala. Três das minhas mais queridas e próximas amigas resolveram casar em menos de um mês. A cada dois dias eu tinha um convite pra padrinho...

Ano que vem promete também. Até aquele meu amigo mais mulherengo, mais canalha, aquele que todo mundo jurava que nunca ia se emendar, meteu uma baita aliançona no dedo e tá todo chaveirinho pra cima da mulher.

E eu virei o solteirão da galera. Aliás, acho que eu virei o solteirão da via láctea e adjacências. Tem gente que recebe foto de site de relacionamento, eu recebo as do Hubble... É impressionante, parece que todo mundo está comprometido. Todas as mulheres bonitas e legais estão namorando. Sabe aquelas três ou quatro a quem você recorre quando está solteiro? Tipo, aquela paixão meio antiga, meio mal resolvida que sempre tem aquele “puxa, um dia quem sabe”? Até essas estão arrumadas.

Ex, casinho, rolo, affair, prospect, pretê, amiga colorida, amiga preta e branca... Não há vagas.

Aqui no meu prédio, por exemplo, só tem casal. É impressionante, não tem uma solteira morando sozinha e sem pó de café as dez da noite assim que nem eu.

E aí, em plena sexta feira a noite, um calor dos infernos, uns infernos cheios de diabinhas saltitantes e você não tem com quem sair porque seus amigos estão em casa fazendo mamadeira, vendo TV, de bode coletivo... Parece que eles combinam de ficar de bode todos no mesmo dia. E tanto chopp armazenado em vão...

Aliás, se algum dia você me telefonar e eu te falar que não vou sair porque tenho que fazer supermercado, please shot me! Descarrega o pente inteiro que é pra ter certeza que eu não tenho como escapar.

Tá bom gente, eu sei que eu pulei minha vez e agora fui pro final da fila. E eu também não tô lá muito preocupado com isso. Como todo solteiro, é claro que eu queria estar com alguém. Assim como todo mundo que está com alguém as vezes bem que queria estar solteiro como eu.

O jeito é se conformar e ficar esperando ué. Enquanto isso vamos arrumar outra coisa pra fazer.

Eu, por exemplo, estou pensando em fundar a AACATC: Associação dos Avulsos Cujos Amigos Todos Casaram.

Uma associação sem fins lucrativos, cujas reuniões serão em bares, regadas a muita caipirinha, risadas, celulares desligados e sem a menor preocupação de hora pra voltar ou satisfação pra dar.

Os casados estão todos convidados, desde que levem ao menos uma solteira com características de interesse do presidente.

Inscrevam-se já.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Amigos ciumentos

Eu tenho amigos ciumentos. E muitos deles nesse exato momento estão lendo esse blog e dizendo " Olha só quem fala!".

Ciumentos assumidos.

E vou começar esse post despertando a ira de 99% deles ao falar a respeito dos meus dois melhores amigos.

- Como assim? Dois melhores amigos? E eu, eu não significo mais nada pra você? Sou um piorzinho é?

Gente, veste aí a carapuça, o texto é sobre ciúmes mesmo...


Tem quem ache ridículo ter 2 melhores amigos. Ou é o melhor ou é seu segundo melhor. Mas a gente sempre dá um jeitinho e categoriza as amizades pra poder ter vários melhores amigos, aqueles que encabeçam as listas.

Eu, por exemplo, tenho um melhor amigo homem e uma melhor amiga mulher.

Conheci a Renata porque uma amiga minha queria porque queria nos apresentar. A Rê namorava havia 10 anos, tinha terminado há 2 dias e precisava conhecer gente. Me conheceu. Linda de morrer, legal de morrer e maluca de morrer. Resumindo: nunca mais vi a amiga que nos apresentou e se ela sair do meu lado quem vai morrer sou eu. Não vivo sem essa surtada que cada vez que eu me interesso por alguém já diz que vai encomendar o Armani pra ser madrinha. Bom, não sei se vou conseguir contentá-la algum dia.

Maior prova de amizade? Bom, eu fui com ela na igreja de Sta Rita de Cassia lá no Pari uns pares de fim de semana seguidos. Pra ela pagar promessa. Sou amigo não sou?

Temos até aniversário de amigo comemorado no dia em que nos conhecemos. Todo primeiro dia de maio a gente se liga pra dar parabéns.

O Juliano eu já conheço de longa data. Desde que ele vinha com aquela cara dele de blazé na faculdade deixando bem claro que não ia com a minha. Mas em 10 anos deu pra aprender que ele é assim mesmo. Te acha um péssimo só porque você é legal e não é amigo dele. E quando te conhece, deixa você conhecer o cara mais legal do mundo. Continuo sem saber se vou casar, mas se o Ju não for convidado pra padrinho junto com a Renata, vai rolar uma bomba embaixo do meu carro.

Maior prova de amizade? Ah, aguentar tanto tempo o Juliano já é uma prova e tanto.

Meus dois melhores amigos se conhecem. E também são melhores amigos entre eles. E lembro bem do dia em que se encontraram pela primeira vez.

Foi num show da minha banda. A Renata, portadora do dom das amizades instantâneas, agarra o Juliano, portador do horror a pessoas cativantes, pelo braço e os dois ficam fazendo ceninha de ciúmes pra mim. A Renata achando aquilo o máximo e o Juliano achando a Renata uma débil mental. Eu, o acusado de miguelar as amizades, lá tocando minha música e quase atirando um microfone nos dois.

Bom, o fato é que nós três, absolutamente diferentes uns dos outros, somos amigos inseparáveis. E ciumentos.


Quando eu saio com a Rê sem o Juliano, a gente liga pra ele pra contar. Babaquice pura.

Ju e Rê (ou Rê e Ju pra não dar briga...) amo vocês.

São duas das melhores coisas que já aconteceram na minha vida. Empatados, lá no topo e em proporções absolutamente iguais, juntinhos, cabeça com cabeça, igual que nem, univitelinos ;0).

segunda-feira, novembro 13, 2006

A Dona Inconveniência.

Todo mundo conhece uma D. Inconveniência. Geralmente, família que se preza tem uma em algum lugar da árvore genealógica. Inconveniência não é hereditário, surge assim do nada. E é mais ou menos que nem sarampo: você não quer chegar muito perto pra não arrumar nada pra se coçar. A diferença é que esse distúrbio geralmente não tem cura e só piora com o passar dos anos.

Não existe o Sr. Inconveniência. Na verdade ele até existe, mas possui outros atributos e inconveniências totalmente distintas. Esse tipo de que estou falando é estritamente feminino.

Um dia sua mãe te avisa que tem uma festinha de aniversário do sobrinho da sua irmã que mora com a tia avó lá de Pirassununga. E você tem que ir.

- Ah não mãe, tô fora.

- Tem que ir meu filho, vão estar todos os primos lá, se só você não for vai ficar chato, faz um tempão que você não vê sua madrinha, seu tio Oscar já tá mais pra lá do que pra cá, sua prima Rita de Cassia casou, seu tio avô Jeremias perdeu uma perna e não pode vir mais pra São Paulo, bla, bla, bla...

Enfim, é o compromisso da década para ver a cara dos parentes que você não lembra o nome e que acham que você ainda deve ter uns 15 anos.

Quase ameaçado de excomunhão você vai.

Chegando lá, aquela casa imensa, cheia de gente que você nunca viu na vida mas que sua mãe jura que é tudo seu parente.

- Tia Jandira!

-Oi minha filha, quanto tempo, ai que saudade de você! E quem é esse moço?

- Esse é o meu caçula.

- Nossa, como você cresceu menino! Meu deus como o tempo passa não? Tá com quantos anos já?

- Tenho 30 tia.

- Ai, nem lembra mais da tia né fio? Também, faz tantos anos.

E aí a Tia Jandira solta aquela máxima:

- Que beleza não? Tá tão gordo, tá bonito, lustroso!

Pronto. Uma legítima D. Inconveniência.

Respira fundo, conta até dez e reúne todas as forças do seu ser para, num esforço sobre humano, dar um sorrisinho amarelado pra ela enquanto pensa:

- Pois é, e a senhora que tá uma véia caquenta? Tá com quantos anos? 140? E aquela foto que a Senhora tem com o Santos Dummont no seu colo, ainda tá por aí?

Mas você acha que acabou?

Ela entra na casa toda feliz e vai te apresentar pra todo mundo. E enquanto você vai cumprimentando aquele mundaréu de gente, ela vai disparando.

- Esse é o Filho da Esmeralda, tá com 30 anos já, olha como o tempo passa Gertrudes? Tá gordo né? Que beleza, ô homi gordo, bonito! Oia só que beleza. Quanta saúde.

Aí você percebe que está cercado por uma legião de Donas Inconveniência.


- Mãe, se alguma tia dessa me apertar a bochecha vai levar cotovelada nos dentes.

E a palavra Gordo vai de boca em boca se espalhando pelos quatro cantos da casa enquanto você suspeita que elas tão com um óculos convexo porque você tá um pouquinho acima do peso mas também não é pra tanto!

E se tem uma coisa que todo mundo adora nessa vida é ser chamado de gordo não é mesmo? Nossa você fica radiante...

Pois é, suas artérias estão entupindo e elas tão jogando na sua cara que você é o Brad Pitt.

domingo, novembro 12, 2006

Copoterapias


Boteco é lugar de relaxar. E meu deus, tem dia que a gente precisa tanto de um boteco...

Chegar, sentar, pedir um chopp e dar o primeiro gole. Isso tem poderes mágicos.

Mas tem coisa que me estressa no boteco também. Pois é, coisa de paulistano pentelho e exigente. Na verdade, segundo um carioca, grande amigo meu, isso não é coisa de Paulistano, é coisa de quem está em São Paulo. Bastou pisar aqui pra adquirir um certo ISO 9000. Sei lá, deve estar no ar.

O que me deixa doente de raiva num boteco é esse esquema de trocar o seu chopp sem te perguntar. O garçom fica com uma bandeja abarrotada, o seu copo tá metade vazio (copo de chopp nunca tá metade cheio) e ele já vem tirando de lado pra colocar mais um na sua frente.

Cara, isso me tira do sério. Geralmente sou BEM mal educado. Primeiro porque eu não terminei de beber. E não me pergunte quando eu vou terminar, pro meu chopp não tem hora certa. Quando o cara coloca mais um na sua frente, você se vê obrigado a se livrar rapidamente do conteúdo porque se não o seu próximo chopp estará quente e sem colarinho.

- Não amigo, não tá vendo que eu não acabei esse ainda?

- Não querido, nem acabei esse aqui caramba.

- NÃO Grrrrrrrnhrnrhrnrhrn.

- Porra bicho, a hora que eu quiser eu te chamo.

O bom é que a gente não corre o risco de tomar chopp cuspido. Porque comida sabe como é né, reclamou, comeu cuspe. Agora o chopp já vem ali na bandeja e o garçom não sabe pra quem será entregue o próximo.

Uma tática pra evitar encheção de saco é tomar garotinho. Pra quem não vive na manguaça que nem eu e nunca ouviu falar nisso, longe de ser pedofilia, garotinho é um chopp que vem num copo menorzinho, pouco mais da metade de um comum. Costume que veio lá do Rio junto com esses maravilhosos botecos cariocas que a gente importou pra cá. Aliás, ainda bem que foi só esse o garotinho que a gente trouxe...

O garçom não anda com garotinho na bandeja. Aí ele é obrigado a te perguntar:

- Mais um garotinho?

Tá vendo, não dói nada perguntar.

Bom, entre umas e outras, raramente recuso uma boa mesa de bar pra sentar e bater papo com os amigos. Não sou daqueles que acompanham litros e litros do suco de cevada, mas com certeza sou daqueles que digerem facilmente horas e horas de conversa.

Sem stress.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Maravilhas da Modernidade: Barbeador Elétrico

Eu tenho uma barba cerrada. Ferrada também. Bom, o fato é que eu tenho uma barba que, se deixar crescer, é de dar inveja em qualquer Talibã. Não sei o que é ter uma “carinha de bumbum de nenê”. Ainda bem, cara de bunda não é legal pra quem já presenciou uma troca de fralda uma vez na vida...

Acabo de lavar o resto de espuma do rosto e minha cara já tá azul. Tipo Homer Simpson.

No colégio eu fui um dos primeiros a usar um barbeador. Só perdia pra um cara chegado num whisky e nuns cubanos que já tinha repetido de ano 2 vezes.

Enquanto meus amigos tinham aquele joguinho de vôlei embaixo do queixo (6 pra cada lado) eu já usava uma bela barbicha no auge da moda Grunge.

Mas até sairem esses aparelhos de barba com 3 lâminas e o diabo, eu sofria um bocado. Barba todo dia nem pensar.

Bom, quando a mulher é chegada numa barba rala e uma panca de cafajeste, ótimo. Agora quando gosta de uma cara lisinha...

Por isso, já há algum tempo, eu estava querendo experimentar um barbeador elétrico.

Me falaram de tudo a respeito. Muita gente me desencorajou “Gastón, não faz isso, cê vai casar com essa porcaria, gastar um dinheirão”. Outros me deram esperança “Meu pai usa e tem uma barba que nem a sua. A cara dele fica uma beleza”.

Pois comprei o tal aparelho.

Se tem uma coisa que eu não faço é ler instruções. Aliás, homem nenhum faz isso. Mas nesse caso, eu resolvi ler, já que o eletrônico em questão tinha 3 lâminas que seriam esfregadas na minha cara.

Em português de Portugal, o manual dizia que a pele leva de duas a três semanas para se habituar com o uso.

Na primeira semana parecia que eu tinha lixado as bochechas.

Na segunda semana parecia que eu tinha disputado uma sardinha com um gato ou enfiado a cara no liquidificador.

E na terceira semana, voi lá: barba feita. E muito bem feita.


Legal porque você faz a barba a seco. Pode ir andando pela casa enquanto se barbeia. E não mulheres, não cai barba no chão. Ela fica dentro de um recipiente no aparelho que você lava depois de usar. Tipo aspirador de pó.

Agora vai passar um pós barba pra vc ver... mais fácil jogar gazolina no rosto e tacar fogo. Arde menos.

Bom, já se passaram alguns meses e ainda estou pagando a última prestação dessa jeringonça.

Hoje em dia, minha cara tá mais do que acostumada. Pode passar um bombril nela que eu seguro a onda. Pra quem não pode ficar mais que dois dias sem se barbear se não nem passa na porta do banco, é uma ótima.


Mais uma maravilha da modernidade.

domingo, novembro 05, 2006

Anuncio de emprego.

Gente, semana passada a Jô me pediu pra indicá-la porque ela só tem dois lugares pra destruir a mobília: a minha casa e a do Rodolfo.

E, tanto aqui como lá, a maioria das coisas que poderiam ser destruídas já estão destruídas. Ou então vão pra algum lugar seguro antes dela chegar.

Pensa bem, deve ser foda acordar logo cedo e ai saco, tenho que ir pro trabalho e não vai ter nenhuma coisa pra eu quebrar hoje, não aguento mais aquele lugar cheio de coisas tão resistentes. Acho que vou levar uma marreta...

Dá dó não dá? Já acordou desmotivado com o trabalho alguma vez na vida?

E a Jô, apesar de muito simples, tem um gosto bem refinado. Ela sabe diferenciar bem um Barilla de um Miojo qualquer, um Philadelfia de uma Quali sem sal, um Haggen Das de um simples Kibon, aprecia frutas frescas (ameixas principalmente) e se por acaso tiver sobrando um bombom importado na sua caixa, ela come ele pra você e ainda se desfaz daquele empecilho que ocupava tanto espaço na sua despensa.

Bom, então eu resolvi colocar o anúncio aqui no blog pra ver se alguém se interessa

E aí, alguém precisa de empregada?

É, porque apesar de tudo, ela é de confiança e rende ótimos posts.

Tudo o que você disser poderá ser usado contra você.

Eu, há algum tempo atrás, comprando piso.

Piso desses laminados de madeira pra colocar no meu apartamento. Madeira modo de dizer, imitação da madeira.

Um piso ordinariamente impostor mas incrivelmente fácil de limpar para um solteiro morando sozinho, disposto a pagar uma faxineira do hezbolah uma vez por semana.

Cheguei na loja já sabendo o que queria.

- Bom dia.

- Bom dia Doutor, em que posso ser útil?

- Então, estou terminando minha reforma e quero encomendar um laminado de Freijó.

E daí por diante o vendedor fez o discurso dele pra me convencer.

Bom, eu fiz o meu papel de consumidor exigente e mandei ver numa pergunta, só pro cara ficar esperto.

- E essas emendas entre as tábuas? Elas aparecem muito?

- Olha Doutor, pode aparecer um pouquinho porque depois de um tempo o piso acaba delatando.

Delatando.

- Ah, certo, tem uma dilatação por causa do calor.

- É, delata as vezes.

Piso que delata.

E você acha mesmo que eu vou colocar um delator dentro de casa? Tudo bem que já ouvi dizer que as paredes tem ouvidos mas piso cagoeta não dá!

Já imaginou a Jô e esse piso juntos aqui no meu apartamento?

Se bem que eu já ia ficar sabendo o que ela quebrou assim que colocasse o pé em casa...

- Olha Seu Gastón, esse seu piso é um mentiroso. Eu nunca quebrei nada não senhor, pode perguntar pro piso do Seu Rodolfo, nunca deixei cair nenhum copo em cima dele, nehunzinho. Aliás, posso usar seu telefone? É que a minha vizinha ficou olhando minha samambaia pra ver se cresce sabe...

quinta-feira, novembro 02, 2006

Pequeno ensaio de solidão (conto)

Sentindo pena de si mesma, ela, de um pulo só, sentou-se na mureta que dividia a casa com a rua pouco movimentada. Ficou ali por alguns minutos, sentindo o vento passando pelos cabelos negros, sentindo alguns fios da franja escaparem e virem incomodar-lhe os olhos, sentindo os brincos baterem no rosto.

No fim da rua, a muralha de arranha-céus que oculta o fim do mundo. Na sua cidade natal não tem disso. Lá o horizonte é mais visível. Bela ironia que a carregou pra São Paulo.

Merda de saudade.

Cabeça baixa, dois olhos raramente verdes fixos no telefone, movendo os dedos nervosos pra digitar uma mensagem.

Você está chegando?

Nessa superlatividade, onde as distâncias são enormes e o tempo que se espera vai na mesma proporção, Roberta tentava esconder de si mesma a ansiedade que ia tomando conta dos cantos das unhas enfiados nos dentes, dos pés que batem incessantes deixando marcas do seu allstar no muro e das palmas suadas a espera de resposta.

Deixa o corpo escorregar, finca os pés na calçada pra poupar as unhas e gastar o ímpeto caminhando de uma lado pro outro. Na ponta dos pés, com o corpo esguio inclinado, olha pros lados e nada, nem sinal, ninguém tinha chegado.

Celular mudo. Rua muda. Tudo tão silencioso que o vento levava longe os sussurros de palavrões que ela repetia baixinho.

Não, ninguém faria isso.

À espera do carro prateado que ela não sabia direito dizer a marca, encostou-se no muro e devagar foi deslizando as costas até sentar no chão da calçada. Colocou a bolsa entre as pernas e fez os braços cruzados, apoiados sobre os joelhos, descanso para a cabeça.

Fechou os olhos. Adormeceu ali mesmo.

De repente uma enorme cascata de flores e frutos. Numa balança, subia e descia deixando o vento levar e trazer seus cabelos negros como se eles é que dessem impulso à brincadeira. De repente Roberta é convidada para se sentar à mesa. À mesa, modos e respeito. Maneiras difíceis de ensinar. Medo constante de errar.

Acorda Roberta.

Ela abriu os olhos sem ninguém ali pra lhe despertar. Quanto tempo se passou?

Uma eternidade. Eternidade é qualquer segundo pra quem tem vida de mais pra tanto deixarem esperar.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Save the best for last

Hoje é, oficialmente, meu último dia de férias. É, sabe como é... encaixei minhas férias entre os feriados prolongados do dia 12 de outubro e do dia 2 de novembro. Uma conjunção planetária e de calendária que acontece a cada 764 anos mais ou menos.

Então, apesar de só voltar pro batente na segunda, ainda tenho mais uns diazinhos de ócio.

Mas estou aqui para alguns agradecimentos:

Queria agradecer à equipe da Rede Globo de Televisão por ter feito essa bela homenagem a minha pessoa no último dia oficial das primeiras férias da minha vida.

Obrigado por terem colocado o clássico dos clássicos “Curtindo a vida adoidado” na sessão da tarde de hoje.

Vou dançar Twist and Shout de pijama em cima do sofá.

Obrigado São Pedro por deixar essa chuvinha lazarenta lá fora. Sessão da tarde sem chuvinha não é a mesma coisa.

E, finalmente, obrigado à Nestlé pelo Nescau e pelo Leite Moça. A combinação desses ingredientes nos deu o brigadeiro. E eu já botei ele pra esfriar na geladeira.

 
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