domingo, abril 27, 2008

Coisas de Marte

Eu me divirto com as pérolas que vêm de algumas das minhas amigas. Dia desses ouvi várias, de uma tacada só.


"Eu descobri que tinha que calibrar o pneu do carro depois de uns anos. Não sabia porque, com o tempo, minha direção tava ficando tão dura pra manobrar."

Ela nunca olhou pro pneu do carro e viu que ele tava meio diferente. Acho estranho essas coisas. Visão seletiva? É, porque pelo que me consta mulher repara em tudo. Garanto que no pneuzinho das amigas ela repara há quilômetros. Se aparece uma fulana com um fio fora do lugar as mulheres sabem. Se a ciclana cortou meio centímetro de cabelo elas percebem. Se a beltrana repetiu uma roupa de doze anos atrás elas comentam com dia, local e hora. Mas no pobre pneu do carro que elas dirigem todo dia, não percebem diferença nem se aquilo parecer um pãozinho amanhecido.


"Eu não sabia que gillete era descartável. Meu namorado uma vez reclamou que precisava comprar umas novas e eu disse: mas faz só duas semanas que você comprou essa."

Pois é né. E essa minha amiga não sabia porque a perna dela tava quase em carne-viva. Quase tomou uma anti-tetânica. Aquela gillete de seis anos no armário e ela felizona se escalpelando.


"Lá em casa tá tudo meio precário ainda. Tem minha cama, meu microondas e minha TV. Mas a TV eu não consegui instalar. Não funcionou. Liguei na tomada e não pegou nenhum canal. Ai meu namorado perguntou: mas você botou uma antena? Chamou a Net? Não. Ah, sei lá, achei que era que nem liquidificador, que a gente liga na tomada e pronto."

Eu espero que ela não coloque um mamão lá dentro pra ver se sai uma vitamina. Juro.

É meninas, vocês precisam da gente.

quarta-feira, abril 23, 2008

Qual é a música?

Queria saber em que parte do nosso cérebro fica o ipod. Sim, vai lá nos livros de anatomia, você vai ver que seu cérebro é composto de córtex, cerebelo, tronco encefálico, hipotálomo, glândula pituitária e ipod nano.

Caramba, então de onde raios vem aquelas músicas que grudam na minha cabeça?

Só pode ter um ipod nano. Ou então o Maestro Zezinho mora dentro dos meus neurônios. Será?

Esses dias eu tenho passado horas cantando duas músicas em especial*. Sempre os mesmos trechos que se repetem incessantemente no pensamento. E, claro, as vezes escapam pela boca. Meu ipod da cachola tá com o botão repeat acionado. E quebrado.

O mais legal é que a pirataria também rola solta nos ipods cerebrais. Experimenta cantar alto a sua música grudenta pra ver se todo mundo que tá em volta também não fica com ela na cabeça? Pois é conexão Wi-Fi. Ruim é quando alguém te passa uma música brega. Porque essas não há cristo que apague. Aí você é obrigado a ficar ouvindo porcaria o dia todo.

Não tem jeito. Música, idéia e gente, quando dá pra ser boa, lota o HD. Andei fazendo uma bela limpeza. Cansei de umas músicas, botei em prática minhas idéias e deletei um monte de gente que não presta.

Sempre bom abrir espaço na memória pra coisas novas.



*Hard Rain (Shout out Louds) e Match Box (The Kooks)

segunda-feira, abril 21, 2008

Sem precisar de nome.

Terça é um dia escasso pra notícias. A semana mal começou, a vida não mudou muito desde ontem. Tudo o que estava ali era a xícara fumegante e jornal sem uso. Adorava pegar um jornal antes de todo mundo, com as folhas ainda certinhas, os cadernos bem dobrados e encaixados e o cheiro de tinta guardado. Costumava apoiar o caderno de esportes em cima da mesa, ainda lendo repercussões dos jogos do fim de semana. Seu time ganhou, queria mesmo avidamente os comentários. Nós homens temos isso. Queremos que falem exaustivamente das vitórias gloriosas dos nossos times. Assim como queremos falar exaustivamente sobre o que quer que seja de glorioso que fizemos para nos manter homens e vitoriosos. Somos tolos.

Levantando a cabeça de tempos em tempos pra observar os pedestres do outro lado do vidro. Num roteiro quase Nova Iorquino. Quase Paulistano. Quase escrito. Pediu mais um. Sempre forte. Dessa vez postou as mãos ao lado da xícara e ficou afastando e aproximando pra sentir seu calor. Naquele dia seriam 2 logo cedo pra aguentar o tranco e a cadência do que sabia que viria. Bebeu, saboreou, sentiu preguiça de ter que pagar a conta e abandonar o lugar. Ali era tudo tão quente e confortável, tudo tão despretencioso e calmo. Já reparou como são os ambientes desses lugares? São marrons, amadeirados, levemente escuros e acolhedores. Colocam você dentro de uma xícara e despejam aroma sobre sua cabeça.

Como viveu tanto tempo sem paladar... Como viveu tanto tempo sem aquela atendente vindo dar-lhe a bebida? Agora tudo o que ele podia desejar eram doses diárias. Do cheiro, do gosto, do calor, da idéia.

Esse tempo passou. O que importa é daqui pra frente. Que venha sua água dividir os meus rumos, se embeber de gosto e despertar. Porque o tempo provou que se pode saborear até do que já teve amargor. Se não provarmos, nunca saberemos se tem sabor.

terça-feira, abril 15, 2008

Para os heróis da resistência.

De seis em seis meses, mais ou menos, chega o dia de comprar Shampoo. Sim, esse assunto já foi discutido e elucidado inúmeras vezes nesse blog, mas sempre é bom lembrar aos cabeludos desavisados que carecas usam shampoo. Sim, eu sei que eu raspo com máquina zero, mas eu uso shampoo. Sim, meus cabelos aqui dos lados ficam sempre muito curtinhos. Mas ainda sim eles são cabelos, ao contrário da maioria presente (ausente?) eles não me abandonaram e merecem ficar limpinhos. E eu tenho uma careca cheirosa. E tenho dito.

É um desgaste toda vez que eu falo de shampoo...

Mas enfim, chegou o jubiloso dia da compra. Evento que me faz ir mais feliz ao supermercado. Hora de contemplar aquela gôndola enorme que permanece ignorada por tantos meses, com suas fileiras imensas de tubos coloridos.

Na época em que eu tinha franja, vendia-se apenas três tipos de shampoo: pra cabelo seco, oleoso ou normal. O mais diferente que existia era condicionador neutrox. Hoje em dia cada marca tem dez modelos diferentes. Bom, o jeito foi ler as embalagens e ver se alguma coisa combinava com as minhas necessidades.

Cachos soltos. Não. Na verdade eu tenho os caixos soltos mesmo. Soltei de mais, eles se perderam e nunca mais conseguiram voltar pra casa. Mas eu não sou viúvo de peruca, não tô esperando ninguém voltar.

Hidra Liss. O que é isso? Se eu tivesse que usar algo Hidra Liss eu não saberia o que eu sou.

Oil Repair. Esse eu compraria pra por no carro. Desculpa mas Oil Repair não é nome de shampoo, é nome de aditivo. Você nunca foi no posto e o frentista te tentou empurrar isso? "Dotô, o sinhô vai querer o Maxxi Power Plus ou o Maxxi Power com Oil Repair?

Long Strong. Bom, essa parte do corpo eu lavo com sabonete mesmo.

Volume controlado. Esse era bom pra Jô. Porque ela fala mais que cego na chuva, se desse pra regular o volume daquela mulher ia ser uma maravilha, eu nem precisava sair de casa quando ela vem aqui fazer limpeza. Botava no mute e ficava tranqüilo.

Quimi-resist. Também não porque aqui num mi resistiu porra nenhuma. Caiu tudo no chão.

Normais. Se eu não sou normal, meu cabelo muito menos (alias é muito menos mesmo. Menos cabelo).

Custava alguém fazer um shampoo para poucos cabelos? Ou um shampoo para cabelos fiéis? Ou quem sabe um para cabelos afastados uns dos outros?

Despois de quase ser vencido pelo cansaço e pela decepção de ser ignorado por toda a indústria farmacêutica mundial, ali, quase escondidinho, bem na prateleira de baixo, finalmente encontrei um shampoo feito pra mim:

Brilho deslumbrante. Bota aí uns óculos escuros que é hoje que eu vou dar um lustre no telhado.

domingo, abril 13, 2008

Não tem remédio.

Sexta-Feira, eu enfiado no sofá, na frente da TV.

Na hora esperada, a chave gira na porta. Lá vem ela.

- Ô Seu Gastón, bom dia.

- Bom dia Jô.

- ...

- Que foi que você tá me olhando, Jô?

-...

- Jô?

- Seu Gastón?

- Fala Jô.

- Afe Seu Gastón, o sinhô tá bem?

- Não Jô, to doente.

- Minha nossa, como o Sinhô tá abatido. Já tá tão magrelinho, ficou mais fino ainda.

- Pois é, passei mal a noite inteira.

- O Sinhô vomitou, foi?

- Sim. Muito.

- Ah, mas foi alguma coisa que o sinhô comeu.

(gênia)

- Sabe seu Gastón, tem umas coisas que eu como também que eu passo mal.

(Granito?)

- Que nem, quando eu como molho de tomate. Comi molho de tomate, é certeza que vô passá mal depois, vai me dar uma coisa no estromgo.

Alguém explica pra ela que o problema não é o molho e sim os 15 pratos de macarrão que estão logo embaixo?

domingo, abril 06, 2008

Só o pó da rabiola.

Depois dos 30 não se abraça a jaca impunemente. Faz de conta que tem 20, sai rolando com aquela jacona no chão, mas depois paga os pecados da ressaca. Aquele gosto de sarjeta na boca, o teto ainda dando uma leve girada e uma neosaldina descendo goela baixo.

Logo eu que passei longos anos me vangloriando de ser imune a esse mal.

De vinho, de cerveja, moral. Agora toda bebedeira tem seu preço.

Daquelas que a gente fica meio bêbado o "day after" todo. Não pode olhar muito pro chão. Nem facilitar no cardápio.

Se eu tomei um porre esse fim de semana? Tomei. Foram doses e mais doses de trabalho insano.

Ressaca de trabalho eu também tenho. Essa, pra mim, é a pior de todas. Que dá azia só de botar a caixola pra funcionar de novo.

Remédio? Café, eu acho. Bebida tão em pauta.

E segura a tontura que vem mais trampo por aí.

Receita infalível: pra curar a ressaca, mantenha-se bêbado.

sexta-feira, abril 04, 2008

Contando ninguém acredita -parte2

(continuação do texto postado abaixo deste)


- Ernestinho?

- Hum.

- Ernestinho?

- Fala Waldir. Tô fechando o balancete da Sapataria Gonçalves LTDA.

- Eu tenho medo.

- Medo de quê, homem?

- Dela.

- Dela quem?

- Da Dona Juliana. Eu tenho medo dela.

- Porque?

- Eu tenho medo que ela venha me pedir coisas.

- Tá maluco Waldir?

- Eu não consigo falar não pra ela. Ela é muito bonita. E se ela me pedir alguma coisa que eu não posso fazer?

Enestinho ficou parado olhando pro amigo. Ele nunca tinha pensado nisso e, até então, vivia perfeitamente bem com a presença feminina no escritório. Mas daquele momento em diante, foi contaminado pelo temor do amigo. Começou a reparar na tremedeira que era naquela gente cada vez que ela entrava de salto alto no corredor formado pelas mesas do escritório. Parecia uma inspeção no quartel.

- Seu Ernesto?

- Oi Dona Juliana.

- O senhor terminou o relatório de pendências que o Seu Cardoso pediu?

- Ainda não.

- Ai Seu Ernesto, o homem tá uma fera. Vai demorar muito pro senhor terminar? Ele quer isso na mesa dele ainda hoje.

- Eu acho que não consigo terminar hoje, Dona Juliana.

- Ai coitado. O homem vai ficar louco com o senhor. Ele tá bravo mesmo, até gritou comigo. Qualquer coisa é melhor do que irritar o chefe hoje.

- É?

- É. Melhor se o senhor se jogar pela janela.

quarta-feira, abril 02, 2008

Contando ninguém acredita.

No escritório, bem no centro da cidade, só trabalhavam homens. Eram nove ao todo. O Chefe, sete contadores e o boy. Todo dia, das oito às cinco, com uma hora de almoço. Em cima do carpete verde, puído, de um lado pro outro as pilhas de papéis andavam de colo em colo apoiados nos colarinhos. Balanços, contas, impostos, relatórios e memorandos. Calculadoras com os números quase desaparecendo, trabalhando duro debaixo dos dedos grossos daquela gente burocrática. Em cada mesa de madeira pesada, um raciocínio de matemáticas e recolhimentos.

Era uma quarta-feira de Janeiro, com as janelas escancaradas por causa do calor e um ventilador velho que dava pra contar quantas voltas cansadas dava. A porta de vidro granulado do chefe estava fechada desde cedo. Lá de dentro, risadas, vozes, silhuetas aparecendo e sumindo a cada instante. Uma, duas horas e nada do Seu Cardoso aparecer pra dar bom dia. No meio da manhã, a porta se abriu e se ouviram nitidamente as vozes altas e descontraídas.

- Ah Dona Juliana, a senhora vai gostar muito daqui. E vai ser muito agradável. Espero que a senhora dê seu toque feminino ao escritório. Não aguento mais esse bando de marmanjos todos os dias olhando pra minha cara. Soltou uma grave gargalhada, o homem, balançando a pança e apertando os olhos de sobrancelhas desgrenhadas.

- Claro Seu Cardoso. Vou começar sugerindo ao senhor trocar esse papel de parede todo embolorado. Minha renite não vai aguentar cinco minutos com esse troço.

- Puxa, a senhorita tem razão. Soltou outra gargalhada. Eu nunca tinha reparado no estado desse papel de parede. Só uma mulher mesmo pra atentar a esses detalhes.

Estava satisfeito o patrão. Do lado daquela mulher alta, de cabelos castanhos e longos, de padrões avantajados e proporções bem distribuídas. Diante de 8 paralisados que não sabiam seus nomes.

- Pessoal, um minuto de sua atenção - disse Seu Cardoso como se realmente isso fosse necessário -Essa aqui é a Dona Juliana. A partir de hoje ela trabalha conosco como secretária da empresa. Vai me auxiliar no dia a dia das atividades e também atender nossos telefones, providenciar materiais de escritório, receber os clientes.

No máximo um aceno tímido ou um meneio de cabeça. Oito bocas escancaradas de olhos vidrados. Parecia que ali estávamos diante de frades em clausura, adolescentes de mães castradoras ou náufragos em ilha deserta. Desconcertado com a reação dos funcionários e notando a sensação de "corda de linguiça no meio do canil" da moça, Seu Cardoso apresentou Dona Juliana à sua mesa de trabalho. Pelo menos dessa não se poderia mesmo esperar nenhuma reação simpática ou calorosa.

Continua...

 
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